Investigar a sua ciclicidade é conhecer a sua natureza crua.

Crua Abiosorventes
12 de dez. de 2024
3 min de leitura

Nós, corpos menstruantes, vivemos uma impermanência que se repete ciclicamente. Diferente das narrativas que crescemos escutando, esse movimento interno

é sinônimo de um corpo saudável.

O ciclo menstrual começa no primeiro dia da menstruação e termina um dia antes da próxima menstruação, quando um novo ciclo se inicia. Geralmente, o ciclo leva em torno de 28 dias, mas algumas pessoas podem ter ciclos de 21 até 35 dias — e isso também é considerado saudável! Do ponto de vista biológico, o ciclo menstrual é dividido em duas grandes fases: a fase folicular (que começa com o início da menstruação e termina com a ovulação) e a fase lútea (que começa após a ovulação e termina com o início da menstruação).

Durante essas fases, passamos por uma “montanha-russa” hormonal: estrogênio e progesterona (secretados pelos ovários), e FSH e LH (produzidos pela glândula pituitária, localizada na base do cérebro). Esse ciclo se manifesta em quatro fases distintas: período menstrual, pré-ovulatório, ovulatório e pré-menstrual.

Se observarmos a natureza, percebemos sua ciclicidade e impermanência orgânica. Temos as estações do ano, as fases da lua, o ciclo solar e o ciclo do dia. Tudo se move em direção ao renascimento. É a beleza da vida-morte-vida que a natureza nos ensina, mostrando que também fazemos parte desse processo.

Ao darmos atenção aos nossos movimentos internos e conectá-los com os ciclos externos durante a fase menstrual, iniciamos uma auto-investigação. Nessa escuta, podemos perceber uma conversa sutil entre nossos processos e criar significados que ressoem com o que faz sentido para nós.

É importante destacar que, assim como a terra, os corpos uterinos são territórios historicamente invadidos, dominados e explorados de maneiras específicas. Assim como a terra sofre com desmatamento, queimadas, poluição, monocultura e extinção de espécies, corpos racializados e uterinos também sofrem violências sistemáticas. Uma das consequências disso é a dificuldade em estabelecer uma relação afetuosa com nossos corpos — uma relação de escuta, cultivo e cuidado. Esse distanciamento pesa na forma como nós, pessoas que menstruam, experienciamos e nos relacionamos com nossos ciclos.

Este é um convite a retomarmos nossos corpos, ocupá-los e ressignificar a forma como nos relacionamos com eles, desenvolvendo autonomia sobre esse território. Acreditamos que um caminho potente para isso é o reconhecimento de que somos, de fato, como a terra.

Não apenas pelos processos de dominação e exploração que nos violentam, mas principalmente porque somos uma das infinitas formas de manifestação da natureza. Quando entendemos que pertencemos à terra, nos conectamos com a natureza cíclica, dinâmica e impermanente de tudo o que existe. Observamos essa natureza se manifestar em nossos corpos-territórios e, a partir disso, podemos criar modos mais gentis de nos relacionar com nós mesmes, nossas raízes, sementes, fases, estações, fluxos e frutos.

Ao mesmo tempo, rejeitamos o mito colonial da “superioridade” humana sobre o que é “não-humano”. Isso é indispensável para imaginarmos modos de vida que não partam da destruição da mãe terra.

Observar e desfrutar da nossa ciclicidade, conectar-se com o poder regenerativo, cultivar a biodiversidade interna e fortalecer nossas raízes são ensinamentos da terra. Eles nos mostram caminhos para romper ciclos de violência e buscar o bem viver.

Reflexões e fragmentos do Livro "Feito para corpos menstruantes - Educação e dignidade menstrual. Ressignificar experiências, criar novas narrativas".

Disponível físico e PDF em 👉🏻 https://www.sejacrua.com/materiais-didaticos

AUTORIA

Jessica Kunzler

Jhessica Anne Mari

Inaê Iabel Barbosa

Dhiego Monteiro

Monica Miranda

CONCEPÇÃO GRÁFICA

No Soy Tu Baby

ILUSTRAÇÃO

No Soy Tu Baby

Como impulso para sua auto investigação, disponibilizamos pra você o nosso diagrama menstrual.